“Seguir orientações de médicos com experiência é uma das
obrigações para quem faz redução do estômago”
Vinte quilos a menos na balança e uma redução de 48 para 42
no manequim. Há dois anos, a comerciante Kátia Vasconcelos, 49 anos, tomou uma
decisão para acabar com uma insatisfação que se arrastava desde que ela era uma
menina de 12 anos com 75 quilos. Passou por uma gastroplastia por banda, que é
a colocação de um anel no estômago. Viveu um pós-operatório difícil, mas conta
que resistiu e não se arrepende. “Como minha autoestima aumentou, minha
ansiedade por comida ficou de lado. Estou feliz. Não quero voltar a ser gorda”,
relata.
Histórias com o mesmo final feliz, no entanto, não acontecem
para todos os pacientes submetidos às cirurgias bariátricas e metabólicas,
também chamadas de redução de estômago. Mortes como a de Fernanda Nóbrega, 26,
na semana passada, cuja causa ainda é investigada, além de casos graves de
anorexia nervosa e intolerância a ferro e proteína são “fantasmas” que assustam
os candidatos a esse tipo de intervenção.
Um levantamento do médico cirurgião Álvaro Ferraz aponta que
após dois anos da cirurgia, menos de 30% dos pacientes fazem o acompanhamento
médico, quando isso deveria acontecer ao longo de toda a vida. É exatamente
nesse momento que os problemas podem começar a surgir e, nos casos mais graves,
resultar em óbito. “A cirurgia, por exemplo, causa uma deficiência na absorção
de ferro e é importante o acompanhamento médico. O mesmo é registrado com a
proteína, mas em menor grau”, explicou.
Exemplos de pacientes operados com comportamentos anoréxicos
também são vistos nos consultórios. Segundo a médica cirurgiã Luciana Siqueira,
isso acontece porque a pessoa fica feliz com a perda de peso e teme comer.
Os especialistas afirmam que, entre os pacientes com
dificuldade de alimentação, que vomitam muito, a solução às vezes está na
endoscopia. “Alguns não mastigam adequadamente ou comem rápido e deixam o
processo de esvaziamento gástrico difícil. Na endoscopia, muitas vezes basta
uma dilatação do estômago para resolver o problema, mas nem todos aceitam a
intervenção, por medo de engordarem. Preferem passar mal”, completa Luciana
Siqueira.
No último domingo (3), Fernanda Nóbrega foi sepultada após
complicações no pós-operatório. Ela foi operada no dia 29 e depois de dois dias
recebeu alta. Na madrugada, passou mal e voltou para o hospital, onde precisou
ser novamente operada. Segundo a família, teria sido diagnosticada com obstrução
no intestino. Dois dias depois da segunda intervenção, morreu.
Queixava-se de falta de ar. O atestado de óbito de Fernanda
apontou como causa da morte embolia pulmonar, mas os parentes apontam que ela
não recebeu os cuidados necessários do médico.
Disciplina
É a palavra-chave para a cirurgia de redução de estômago dar
certo. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica orienta que o
paciente deve fazer consultas e exames laboratoriais periódicos no
pós-operatório, além do acompanhamento nutricional e psicológico. “A obesidade
pode ter problemas psicológicos relacionados. São pessoas que sofrem muito
preconceito e, quando se operam, acham que vão resolver todos os problemas.
Como nem sempre conseguem, há os que entram em depressão”, analisa o médico
Álvaro Ferraz.
Entre as complicações do pós-operatório estão infecções,
tromboembolismo (entupimento de vasos sanguíneos), deiscências (separações) de
suturas, fístulas (desprendimento de grampos), obstrução intestinal, hérnia no
local do corte, abscessos (infecções internas) e pneumonia. Além disso,
sintomas gastrointestinais podem aparecer após a refeição. A dica dos
especialistas é reduzir o consumo de carboidratos, comer mais vezes ao dia, em
pequenas quantidades, e evitar a ingestão de líquidos durante as refeições.
Verdades
Perde-se
mais peso nos primeiros seis meses.
A perda mais
significativa de peso ocorre nos primeiros seis meses
A mulher
pode engravidar no pós-operatório.
A paciente é
liberada para engravidar sem riscos após 15 meses de pós-operatório
Há tendência
à anemia no pós-operatório.
Mulheres têm
tendência à anemia por causa da menstruação, perda de ferro e falta de carne
vermelha na dieta
O apoio da
família e à família é indispensável.
Os novos
hábitos a serem adotados pelo paciente devem ser estimulados por todos que
convivem com ele
O paciente
que sofre de gastrite pode ser operado.
Não há
restrição cirúrgica para paciente com gastrite
Mitos
Em um ano de
pós-operatório, o paciente engorda.
O ganho de
peso ocorre quando o paciente não adota dieta menos calórica e não pratica
exercícios físicos
Quem faz a
cirurgia bariátrica fica propenso ao alcoolismo, uso de drogas ou compulsão por
compras.
Não existe
evidência científica sobre o assunto
A depressão
é comum para quem faz a cirurgia.
Se o
paciente ficar deprimido, isso deve ser investigado por psicólogo ou psiquiatra
Depois da
operação, é comum a intolerância ao leite.
Esses
alimentos são, inclusive, recomendados, sobretudo para as mulheres, como fontes
de cálcio
A cirurgia
causa problemas renais.
Não foi
observada tendência a problemas renais
O paciente
sente muitas dores no primeiro mês do pós-operatório.
As dores se
manifestam somente no primeiro dia do pós-operatório
Depois da
cirurgia bariátrica, o paciente deve fazer cirurgia plástica corretiva.
Nem sempre é
necessário fazer cirurgia plástica após o procedimento
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